quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Chaves e a questão social.


Podemos rir até hoje dos episódios mais que repetidos do programa Chaves que passa em canal aberto e que fez parte da nossa remota infância. No entanto pra bom entendedor meia palavra basta e quem pensou o programa a tantos anos atrás teve uma sacada muito inteligente: Chaves é a mais nítida leitura da "questão social" com as suas múltiplas facetas e determinantes.
Conceituando "questão social" - Conjunto das expressões da desigualdade social, econômicas e culturais, ou seja, problemas de uma sociedade capitalista, do antagonismo entre o Capital e o Trabalho. Parafraseando, coloca-se a partir da produção e distribuição de riquezas, traduzindo-se pela erosão dos sistemas de proteção social, pela vulnerabilidade das relações sociais e pelo questionamento da intervenção estatal.
Sendo assim, temos uma vila (cortiço) num bairro pobre do México.
O protagonista da história Chaves é um menino em situação de rua e trabalho infantil, considerando que ele engraxa sapatos e realiza alguns serviços para as pessoas da comunidade. Sobrevive e se alimenta de esmolas que as pessoas residentes do cortiço lhe dispensam e sofre violência física pelo seu agressor Seu Madruga. Deveria ser atendido pelo Estado garantindo seu direito previsto na legislação. Apesar de tudo ele estuda, só não se sabe quem o matriculou e se possui documentação pessoal.
Chiquinha e seu pai Seu Madruga, ela órfã de mãe (na verdade não sabemos se a mãe morreu ou foi embora deixando a família), sofre de carência afetiva e vive chamando a atenção para ela. Ele desempregado há anos e realiza trabalhos esporádicos como autônomo, o verdadeiro cara 'safa'. Residem de aluguel. Também não são atendidos pelo Estado, não recebem nenhum benecífio/auxílio ou estão inclusos em alguma política pública.
Kiko e sua mãe Dona Florinda, o primeiro uma criança mimada que tem tudo que quer mas não se enxerga enquanto classe, órfão de pai, a mãe lhe enche de presentes para satisfazer a ausência do mesmo. Vivem com a ajuda da pensão deixada pelo pai falecido.
Dona Clothilde, uma idosa que mora sozinha e é excluída pelos vizinhos por puro "preconceito", mas dela nunca ouvi dizer que tivesse alguma renda mensal, pensão ou tivesse pedido dinheiro emprestado para alguém. Apaixonada pelo Seu Madruga deve apenas sofrer de carência afetiva.
Professor Gilafales, professor de ensino fundamental, mal remunerado e fadigado da vida de professor, bem como vemos na realidade nua e crua dos professores. Não conta com muito respaldo do Estado para exercer sua profissão. Os alunos são produto de um sistema educacional fálido.
Seu Barriga, o personagem rico do programa, dono de todas casas do cortiço. Este representa o capital, as grandes corporações, os bancos. Vem a vila apenas para cobrar os aluguéis e ameaça despejar sempre o Seu Madruga que está a meses com o aluguel atrasado. Vê o Chaves todas as vezes que vai até o seu empreendimento mas nunca foi capaz de alertar ao órgão competente que existe uma criança em situação de risco físico e social morando em sua propriedade.
Acredito que agora podemos continuar rindo dos episódios do programa com apenas uma restrição: riam com consciência e olhar crítico, tenham em mente que estão rindo da desigualdade social e saibam que mais do que engraçado é a situação que grande parte da população no mundo se encontra.
(Camilla)
Texto postado também no meu outro blog:

5 comentários:

  1. cadê as donas desse blog que não escrevem mais textos... acabaram as histórias?

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  2. Retificação: postando comentário para o companheiro Rui que postou em texto errado.

    Nossa Camila!
    Vc escreveu de forma maravilhosa o que eu pensava mas nunca tive coragem de escrever!
    Muuuito otimo!!!
    Bjos no coração!!!
    Rui

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  3. Eita cabloco rui que num sabe postar nem um comentario!Esse figura tem que ser morto com chuvas de computadores em sua cabeleira!

    Rui

    (usando meu login para postar comentários)

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  4. Que belas palavras Camilla..quando crescer quero ser igual você.
    Praticamente uma lutadora da prole..que orgulho..seu texto ficou ótimo.
    Estou sem tempo,seguindo em frente e o que me faz viver é saber que entro em férias dia 23/12.
    Estou preparando um texto:" Homenagem à Michael" Aguardem-me!!
    Bjs Lu loira

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  5. bibibibibibibi... o choro do chaves soou mais alto depois que li seu texto.
    Besos...
    Mariana.

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qual foi a brisa?